sábado, 8 de maio de 2010

Novecento


Novecento
Novecento, 1976
Dirigido por Bernardo Bertolucci
Escritores Fanco Arcalli, Giuseppi Bertolucci, Bernardo Bertolucci
Com Robert De Niro, Gerard Depardieu, Domenique Sanda, Sterling Hayden, Werner Bruhns, Anna Henkel

Há uma dúvida universal quanto a este filme. Afinal de contas, qual é o seu título real? Nos pôsteres o título está escrito com números: "1900", já no filme está escrito "Novecento", como não há uma definição, vou chamar como no original, "Novecento", pronunciando em italiano.

Bernardo Bertolucci (O Último Imperador, O Último Tango em Paris), é um diretor peculiar. Ele consegue criar cenas memoráveis, de uma carga dramática imcomparavel e de rara beleza. Mas ao mesmo tempo que ele consegue estabelecer este tipo de cena, ele consegue estragar na sequência com cenas fraquíssimas e neste Novecento está a maior prova disso.

Bertolucci criou uma obra que me consumiu 5 horas e 25 minutos de vida, sem contar todo o esforço mental que eu tive de fazer para acompanhar a obra, mas a pergunta é, o que dá para contar em 315 minutos de filme? Muita coisa. Mas será que há tanta coisa nesse filme? No enrredo não, mas nas personagens sim.


Novecento conta a história de Alfredo Berlinghieri (De Niro) e Olmo D'alcò (Depardieu). O primeiro é o filho do dono da fazenda onde a família de Olmo trabalha. Os dois nasceram no mesmo dia: a virada do século XIX para o século XX (na verdade o filme diz que foi há muitos anos antes, mas um dos criados, no dia do nascimento sai gritando "Giuseppe Verdi está morto!" e ele faleceu em 27 de janeiro de 1901, poucos dias depois da virada do século). Logo os dois se tornam amigos. Eles crescem, mas com o passar do tempo tomam rumos diferentes: Alfredo torna-se o patrão da fazenda enquanto Olmo permanece como camponês. Ao passo que o facismo toma de conta das camadas mais ricas da sociedade (atingindo Alfredo), o socialismo faz a cabeça dos pobres camponeses.

O filme conta a história dos dois e seus destinos, ponto. O resto é só pano de fundo, brilhante por sinal. Apesar de extraordinariamente longo, o filme nunca, em momento algum, perde o rítimo, um ponto a favor da brilhante direção de Bertolucci e da edição coerente de Franco Arcalli (O Último Tango em Paris e contribuiu no desenvolvimento de La Luna, e teria escrito e editado o filme caso não tivesse morrido).

O problema do filme é um só, ou melhor dois: algumas cenas com teor sexual são terrívelmente desnecessárias, e fazem Bertolucci parecer um pervertido (no filme podemos ver o pênis de Depardieu e De Niro, a personagem de Olmo, ainda criança aparece "transando com o chão" e uma jovem pega no pênis da personagem de Sterling Hayden e diz "Não se pode ordenhar um touro", coisas absurdamente desnecessarias). O segundo é a caricaturarização de alguns personagens: quando o filme vai chegando a metade surgem as personagens de Donald Sutherland: Attila e sua companheira Regina (Laura Betti). Eles mais parecem bruxos do que humanos.

O filme também tem uma violência excessiva que beira a psicose. A cena em que Attila mata o garoto Patrizio jogando sua cabeça na parede, ou quando ele mata um gato dando uma cabeçada são explícidas e que poderiam ser bem mais sutis.


Talvez eu não tenha compreendido perfeitamente, mas, as personagens parecem psicologicamente desestruturadas: o pai de Alfredo é um homem violento e agressivo. Os camponeses não parecem demonstrar emoções (na cena em que o pai de Alfredo corta o salário dos trabalhadores pela metade e um dos trabalhadores decepa a própria orelha, sem gritar nem nada mostra isso). Não creio que seja falha de Bertolucci -- ou de seu roteiro --, mas achei esquisito. Aliás, o roteiro peca poucas vezes, mas faz feio ao fazer do filme uma propaganda descarada do comunismo, forçando as personagens, não poucas vezes, a sairem discussando no meio do filme, falando palavras que não seriam facilmente entendidas pelas personagens pobres do filme.

O filme nos trás uma boa trilha sonora de Ennio Morricone (Três Homens em Conflito, Era Uma Vez na América), mas que, muitas vezes, aparece na hora errada e tem uma duração incorreta. Em contraste, Vittorio Storaro (Apocalipse Now, A Estratégia da Aranha) faz um trabalho impecável na fotografia deste filme. Claro que alguns closes excessivos podem incomodar às vezes, mas isso é da natureza do cinema italiano.

Eu, por diversas vezes comparei este filme com O Portal do Paraíso, de Michael Cimino. Os dois tratam de temas parecidos (conflitos entre ricos e pobres), têm uma beleza estética incomparável e são absurdamente longos. A diferença básica é que o filme de Cimino desvia-se bastante da trama, enquanto Bertolucci fez algo definido. O Portal do Paraíso pode ser cortado em diversos pontos, já Novecento foi editado de maneira correta (a falha fica apenas nas cenas de violência e sexo). Um grande filme.

Nota; 3 estrelas em 5

Por Victor Bruno

0 comentários:

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More